Homem negro é torturado em supermercado do Mateus na cidade de Santa Inês

Local onde homem negro foi algemado e mantido sob cárcere privado em supermercado do Grupo Mateus, no Maranhão.

UOL – A Polícia Civil do Maranhão prendeu ontem quatro funcionários que prestam serviço ao Grupo Mateus por manter um homem negro sob ameaças, tortura psicológica e cárcere privado por quatro horas dentro de um almoxarifado de um supermercado da rede em Santa Inês, no interior do Maranhão.

Foram presos os fiscais de prevenção de perdas do supermercado Lucas Rocha e Levi Araújo, o vigilante Willamy Antonio e e o subgerente do supermercado, Wellington Rodrigues.

O UOL entrou em contato com a defesa dos funcionários, mas ainda não houve retorno dos advogados até a última atualização desta reportagem.

A empresa é uma das maiores redes varejista de alimentos do Brasil, com mais de 50 estabelecimentos nos estados do Pará, Maranhão e Piauí.

O dono, Ilson Mateus, é considerado um dos homens mais ricos do Brasil, segundo a Forbes, com fortuna estimada em R$ 20 bilhões.

A vítima, de 35 anos, havia comprado dois quilos de frango, às 8h de ontem, e saía com a sacola com o produto e a nota fiscal, depois de pagar pelos itens no caixa.

As imagens da câmera de segurança do supermercado flagram a abordagem de um segurança no momento em que o homem deixava o supermercado. Ele foi conduzido por uma escada até o setor de gerência do supermercado. Lá, foi fotografado e levado ao almoxarifado.

Ele foi conduzido por uma escada até o setor de gerência do supermercado. Lá, foi fotografado e levado ao almoxarifado, nos fundos da loja.

Segundo o relato prestado na delegacia da cidade, ele foi algemado e amarrado com um pedaço de fio metálico a uma barra de ferro por ao menos quatro horas. Nesse período, ele foi ameaçado por seguranças, inclusive com arma de fogo, para que confessasse um suposto furto.

“Os funcionários, em vez de realizarem o procedimento legal de acionamento da Polícia Militar ou da Polícia Civil, para que ele fosse conduzido e autuado pelo crime de furto, o que eles fizeram foi amarrá-lo, praticar tortura psicológica e ainda tortura física, porque ele foi mantido amarrado em uma barra de ferro, em pé, por quatro horas”, disse o delegado Allan Santos, de Santa Inês.

“Chegamos ao supermercado e encontramos as pessoas que ele (a vítima) apontou como autores dos crimes. Havia mesmo um almoxarifado, que era usado para depósito de eletrônicos. Também encontramos, na sala de monitoramento de vídeo, a algema utilizada, e, no local onde ele apontou, encontramos o fio elétrico cortado utilizado para amarrar a algema na estrutura metálica onde ele ficou”, completou.

Segundo a polícia, diante dos elementos encontrados e do pouco tempo entre a denúncia e o horário do fato, houve a caracterização de flagrante e os funcionários foram autuados por tortura e cárcere privado, e depois encaminhados à Unidade Prisional de Ressocialização de Santa Inês.

Sobre o caso, o Grupo Mateus afirmou que houve um grande furto de alimentos no supermercado e que o cliente foi mantido preso até que familiares chegassem para pagar os produtos a mais Sem o comparecimento de familiares, o autor foi embora, tendo a empresa recuperado os mais de 30 produtos furtados. Em represália à apreensão, o mesmo registrou boletim de ocorrência, deturpando os fatos e levando informações distorcidas ao delegado de plantão que apurou preliminarmente o caso. Continuaremos à disposição das autoridades para esclarecer o ocorrido, diz em nota da empresa.

Em relação à justificativa do Grupo Mateus, a polícia afirmou que não há prerrogativa legal para manter uma pessoa presa até que possa pagar por produtos furtados e que o correto seria a empresa chamar a polícia para conduzir o suspeito à delegacia.

Ainda ontem, o juiz de plantão decidiu conceder a liberdade provisória dos funcionários do Mateus por não terem antecedentes criminais.

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