Por uma daquelas coincidências que só o destino explica, a Ministra Cármen Lúcia, a única mulher no Supremo Tribunal Federal (STF), foi sorteada para relatar um caso que carrega as marcas do machismo ainda tão presente nas leis e nas estruturas de poder do Brasil.
Trata-se de uma ação que questiona a eleição para a presidência da Assembleia Legislativa do Maranhão, e, por outra encruzilhada das coincidências cósmicas, houve um empate na votação entre uma mulher, a deputada Iracema Vale (PSB), e o deputado Othelino Neto (Solidariedade).
E, pasmem, a ação no STF tenta invalidar a regra de desempate que dá a vitória à pessoa mais velha — uma regra simples, clara, prevista tanto no regimento interno da Assembleia quanto na Constituição Federal para casos de empates, como em eleições presidenciais.
Mas o que está por trás disso vai muito além de um tecnicismo jurídico: é mais uma tentativa de silenciar mulheres na política, de impedir que ocupemos os espaços de poder que, historicamente, foram negados.
O que o partido Solidariedade busca, na prática, é subverter uma regra que favorece a deputada Iracema e criar um critério que privilegie quem tem mais mandatos.
E sabemos bem quem seriam os principais beneficiados: os homens, que por séculos monopolizaram as cadeiras parlamentares e nos afastaram da vida pública.
Essa ação é mais do que uma disputa eleitoral, é mais um exemplo do “feminicídio político” detectado diariamente — uma tentativa de barrar mulheres que ousam sonhar mais alto, que querem liderar, que almejam não apenas legislar, mas presidir as Casas Legislativas.
Nem mesmo o respaldo da Constituição, que define no artigo 77 a idade como critério de desempate, parece ser suficiente para conter o machismo enraizado. Quando a lei favorece as mulheres, eles querem reinterpretá-la, distorcê-la, criar “novos entendimentos” que sempre nos colocam em desvantagem.
É hora de dizer basta! As mulheres precisam se mobilizar para impedir que mais essa tentativa de subjulgamento pela via judicial prospere.
Não é só sobre uma eleição no Maranhão; é sobre as mulheres, seus direitos e o futuro nos espaços de poder.
Que a Ministra Cármen Lúcia faça justiça e mostre que o tempo do patriarcado já passou